sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

DIVERSOS OLHARES NO MERCADO ABERTO DE GOIÂNIA



TEXTO FINAL AVALIATIVO




Em um primeiro momento, a escolha da “porta de entrada” aconteceu depois de muita busca, pois, a primeira escolha, uma casa de recuperação, não foi possível, acredito que por desconhecimento completo pelos futuros entrevistados da proposta em questão. Com a escolha feita da porta de entrada, foi realizada a etnografia, que possibilitou um importante diagnóstico da realidade do espaço pesquisado. O próximo passo era a proposta de intervenção a ser realizada no local.
Inicialmente a proposta era utilizar a arte (Pop Arte) na produção de trabalhos que informassem para os freqüentadores do Mercado Aberto de Goiânia sobre questões básicas como, o local dos sanitários e outros espaços. Esta necessidade surgiu do diagnóstico inicial, feito com os sujeitos freqüentadores, que relataram da falta de informação e “educação” de alguns, como exemplo, jogando lixo em locais inadequados.
Partindo desta proposta, foram realizadas conversas informais com muitos comerciantes do local, que falaram que o espaço  é freqüentado também por diversos tipos de pessoas, fora do horário normal de trabalho. Estes relatos despertaram minha curiosidade, um mesmo local com diferentes utilizações.
Com esta inquietação e com a orientação da professora orientadora pude vislumbrar outra poética para a porta de entrada, sendo, neste momento, a busca de uma compreensão, no cotidiano dos diversos grupos do Mercado Aberto de Goiânia, qual a visão/olhar de cada grupo que freqüenta o local em horários diversificados sobre o próprio local em questão.
Os diferentes olhares para um mesmo local. Com este novo direcionamento decidi utilizar como suporte para a poética a arte contemporânea, partindo da utilização da arte com uma postura mais  documental que artística, evidenciada em artistas de Land-art, Happening e Performance para registro  de seus trabalhos.
Dentro desta forma de expressão especificamos o trabalho na tendência contemporânea de Multiculturalismo, que dá expressão a minorias sociais e permite que artistas que vivem em situações excêntricas como em guetos underground, possam documentar imageticamente o seu universo. Dentre os artistas em destaque podemos citar Robert Mapplethorpe (1946 – 1989) e Nan Goldin (1953).
De posse destes referenciais teóricos comecei o desenvolvimento da proposta. A câmera digital foi essencial para a realização. Com ela em mãos e com algumas questões previamente elaboradas, tais como:  “qual o significado do Mercado Aberto para você”; “o que você faz neste espaço”; “você freqüenta este espaço em outros horários”; “sabe o que acontece em outros horários neste local” e por fim, “se este espaço não existisse, faria falta para você”.
Com esses questionamentos as entrevistas foram realizadas, e as respostas foram diversas, muitos disseram que freqüentam por obrigação, pois utilizam o espaço como local de trabalho, destes a maioria não soube responder o que acontece no espaço em outros horários. Em uma resposta afirmativa, disse da utilização em outros horários, à noite, onde acontecem encontros com pessoas que se drogam, atitudes estas que, segundo ele, não tem sua participação, mas, poucos têm conhecimento destes acontecimentos. Outros responderam que utilizam para lazer, em finais de semana, estes afirmaram conhecer o espaço em outros horários, quando ocorrem as feiras.
Em um outro momento, no período noturno, acontecem alguns eventos que já estão no calendário semanal do Mercado Aberto, o principal e mais comentado por todos os entrevistados é o encontro de Motociclistas, que ocorre na quinta-feira de todas as semanas, exceto na segunda quinzena de dezembro em decorrência da feira que passa a funcionar à noite em decorrência das vendas para o natal, como relatou um dos entrevistados.
Nesse encontro notei a presença de um grande número de pessoas, por volta de 50, de vários lugares e cidades próximas, que freqüentam o espaço unicamente para lazer, “trocar uma idéia” na fala de muitos entrevistados. Quase todos aceitaram a minha solicitação para a entrevista, apenas um preferiu não fazer, alegando a ocorrência de problemas anteriores com este tipo de proposta.
A maioria dos entrevistados afirmou ter consciência do funcionamento em outros horários, mas em geral só freqüentam para lazer, no encontro semanal, período noturno. Em todas as falas era evidente a importância do espaço e do momento “um lugar para encontrar os amigos, muito especial” como afirmou um dos entrevistados.
Nas entrevistas era notório o conhecimento que os feirantes têm sobre o encontro de motociclistas, mas a maioria não tinha presenciado este momento, apenas uma afirmou, em conversa informal, que já participou somente por curiosidade, “ver como era”. Eles se mostraram muito interessados em assistirem as entrevistas feitas no encontro noturno, o que foi feito de forma satisfatória.
De posse de um note book e com as entrevistas gravadas pude chegar ao momento de culminância da proposta, que tinha como objetivo final o diálogo ou olhar dos sujeitos entrevistados para com as outras entrevistas feitas em horários diferenciados.   Uma das entrevistadas, afirmou que não se surpreendeu com as outras falas pois, “são pessoas normais”. Outros não se atentaram muito para as falas fixando olhar nas motocicletas, muito “massa”, na fala de um entrevistado, em conversa informal.
Sem a intenção de produzir uma montagem com os vídeos da entrevistas, o objetivo da proposta era justamente utilizar os vídeos como forma de provocar o olhar e atenção dos sujeitos envolvidos direta e indiretamente com o local pesquisado, o que ocorreu de forma satisfatória, considerando as diversas impossibilidades de estar no espaço em outros horários que alguns afirmaram da ocorrência de encontros de outras tribos e grupos, pela falta de tempo, o que possibilitará uma nova abordagem posterior para esta proposta.
Contudo, percebo que esta proposta se assemelhou muito com as intenções da tendência contemporânea do Multiculturalismo, mais precisamente na obra da Nan Goldin (1953) que utilizou a arte em um sentido mais documental ao captar imagens e momentos de personagem da cena underground, em registro de intensa sensibilidade, a semelhança que consigo visualizar é apenas na questão do registro, da parte documental. A questão de enfoque na “sensibilidade” dos sujeitos poderá ser mais um objeto para estudos e propostas futuras.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

GUIMARÃES, Leda Maria de Barros; OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de; JORDÃO, Paulo Veiga;  Licenciatura em artes visuais: módulo 7/ Ateliê de poéticas visuais contemporâneas / Estágio Supervisionado III. Universidade Federal de Goiás. Faculdade de Artes Visuais/Goiânia:Funape,2010.